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Qual é a sua causa?

  • Foto do escritor: Cynthia Martins
    Cynthia Martins
  • 16 de dez. de 2022
  • 2 min de leitura

A partir de hoje, estou aqui com você nesse novo espaço do grupo Bandeirantes. Ter coluna é chique, conversamos outro dia uma colega e eu. É a realização de um sonho enquanto jornalista.

Sou do tempo dos jornais de papel. De colecionar edições históricas. De ler cada detalhe do Jornal do Brasil, já distante dos tempos de glória, e querer um dia ocupar aquele espaço, com nome e sobrenome.

Os caminhos foram me levando apenas para a mídia falada e com imagens. Rádio e TV sempre foram meus ambientes de trabalho em praticamente toda minha carreira. Mais que um sonho pessoal, estar aqui me comunicando através da palavra escrita dessa forma é, acima de tudo, sobre conquista e mudança coletivas.

Enquanto jornalista, eu não posso crer que estar aqui ocupando seja esse espaço, ou da TV ou da rádio, que isso passe apenas por uma realização pessoal. Não dá pra exibir o microfone da Band em fotos ou a coluna como um troféu pessoal. Se não, de nada vale ter escolhido uma profissão que tem como missão movimentar as estruturas, ajudar a melhorar a vida das pessoas, mexer com a cabeça de tanta gente. Informação é o instrumento mais poderoso para mudança.

Quando escolhi o jornalismo, foi por uma missão. Respondo isso em diversas entrevistas: eu queria mudar o mundo.

E ainda quero. Tem dia que é muito difícil. Dá vontade de desistir. Mas, enquanto eu ainda tiver as palavras, o jornalismo e essa coluna, vou seguir tentando. E começo com muitos incômodos, especialmente nesse mês da consciência negra, em que somos tão solicitados. Mas, de fato estão nos dando espaço?

Não podemos ser apenas Magda Figueiredo e eu colunistas aqui na Orbi. E por sermos negras, a pauta racial não pode ser o único caminho para que estejamos aqui.

Pretos e pretas têm competência para serem colunistas, analistas e especialistas em outras pautas que não as raciais. Onde estamos como grandes colunistas da cobertura política? Onde estamos no grupo de transição da economia do novo governo eleito?

Tivemos vitórias sim. No jornalismo, já somos bem mais que antes. Mas queremos que apostem em nós, como vi ao longo da carreira tantas apostas altas em muitos colegas brancos nada ou pouco competentes.

Nesse momento, me foi dada a missão de ocupar esse espaço, mas que quem abre portas perceba a urgência de que outros e outras possam ocupar também. Que frestas possam ser escancaradas e se tornem portas e janelas para outros e outras jornalistas pretas e pretos.

Se a mensagem chegar até você, nem que seja através dessas linhas, parte da missão que eu acredito já terá sido cumprida. Parte, porque eu não faço nada sozinha. A vitória e o avanço pretos sempre serão coletivo. E que possa reverberar, se agigantar. Só sendo gigante que vamos de fato mudar as coisas, que é o que me interessa mais.

Como disse o presidente recém eleito em seu discurso de vitória: "O que envelhece uma pessoa é a falta de causa". Não quero ocupar sozinha. Abrir espaço para os meus é a causa que me mantém jovem e viva.

* Texto publicado na coluna Pretoteca, no site Orbi News.

 
 
 

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© 2022 por Cynthia Martins

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